Dias de chuva, dias de Sol
Dias de chuva, dias de Sol
O mundo da minha infância era mais frio e parecia ser mais previsível. Era possível olhar o céu e, além de imaginar formas e rostos nas nuvens, saber como seria o amanhã: vai chover. O inverno também tinha um pouco mais de pontualidade. E tinha água congelada nas folhas e muito cinza e um vento cortante que chegava a machucar o rosto enquanto gritava. E eu amava isso. A garoa fina era um abraço. Era como se a natureza me dissesse “veja como sou forte. Te abraço e você é forte também. Porque sou você e você sou eu”. Ficava lá me sentindo vivo e abraçado pela garoa até a mãe protetora chegar com a bronca. Vem para dentro porque está frio! Lembrei disso neste dia de chuva que convida tantos à melancolia. Me sentia diferente porque minha tristeza sempre chegou nas tardes de Sol. O calor implacável e cheio de cor pode ser maravilhoso, mas opressor. Ser feliz em dias de Sol era imperativo. Que dia lindo, como pode estar triste? E eu me sentia errado. Não era convite. Era ordem. O vento dos dias de chuva e frio é sutil, só sussurra e abraça, dizendo que está aqui comigo.